Sou de Franca, interior de São Paulo, vou muitas vezes para lá visitar meu pai. Quase sempre prefiro um ônibus, gosto de aproveitar as cinco horas e meia de viagem lendo e trabalhando. Passa muito rápido!
Algo que sempre achei meio sem sentido é o início de uma viagem como essa, o motorista de pé em frente aos passageiros fala algo mais ou menos assim:
– Nosso tempo previsto de viagem até Franca é de cinco horas e meia. A parada é de 20 minutos. O cinto de segurança é obrigatório!
Ninguém presta atenção! Talvez alguns até ouçam, mas o que o motorista fala é tão mecânico, apenas para cumprir normas, que mesmo ouvindo ninguém faz o que ele sugere.
Então, estou em Franca agora enquanto digito este texto, vim de ônibus, só que desta vez – para minha surpresa – o motorista foi para frente dos passageiros e começou:
– Bom dia!
Ninguém respondeu! Tal como um animador de auditório, ele continuou:
– Vocês estão com sono, ninguém respondeu. BOM DIA, pessoal!
Não é que as pessoas pararam de mexer em seus celulares, deixaram suas coisas de lado, abaixaram os jornais e revistas e começaram a prestar atenção. E responderam ao “bom dia”.
Animado com esta reação, o motorista continuou:
– São 10h agora, vamos chegar aproximadamente às 15h30. Às 12h teremos uma parada de 20 minutos para o almoço. Vocês conseguem almoçar em 20 minutos?
As pessoas, meio surpresas pelo discurso, responderam afirmativamente. E o motorista:
– Ah, conseguem nada, 20 minutos é muito pouco. Mas, pessoal, vamos fazer o máximo para almoçar neste tempo?
Aí veio o cinto de segurança:
– Há um cinto de segurança no banco de vocês. É meio difícil destravar, mas peço que vocês tentem usá-los. Claro que ele não será necessário, nunca tive problemas em minhas viagens, mas não custa colocá-lo!
Foi uma verdadeira aula sobre como lidar com públicos, sobre como argumentar, conquistar e convencer. Praticamente todos colocaram seus cintos, felizes por fazer o que o motorista havia pedido. E o mais incrível, os 20 minutos da parada foram totalmente respeitados, os passageiros voltaram pontualmente.
Em todos estes meus anos de viagem, esta volta da parada é sempre um problema. O motorista entra no ônibus, confere o número de passageiros, faltam alguns, temos que esperar um pouco, o motorista confere novamente, continuam faltando alguns, ele volta ao restaurante e anuncia novamente a partida e por aí vai. Os 20 minutos acabam virando uns 40 ou mais. Menos desta vez! Incrível!
Foi uma viagem de aprendizado. Fiz questão de agradecer e elogiar o motorista na saída do ônibus, afinal bons exemplos assim precisam ser incentivados. E multiplicados!
Um abraço grande,
Fernando Andrade
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